Essa antiga palavra africana representa “humanidade para todos” e “eu sou o que sou devido ao que todos nós somos“.
“Ubuntu” é uma noção existente nas línguas zulu e xhosa – línguas bantu do grupo ngúni – faladas pelos povos da África Subsaariana. É uma palavra paroxítona, que se pronuncia uBUNtu (de forma figurada seria algo assim: ubúntu).
A palavra Ubuntu, não traduzível diretamente, exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. Segundo Desmond Tutu, autor de uma teologia ubuntu “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade”. Essa noção de fraternidade implica compaixão e abertura de espírito e se opõe ao narcisismo e ao individualismo.
Nelson Mandela também explica esse ideal:
“Respeito. Cortesia. Compartilhamento. Comunidade. Generosidade. Confiança. Desprendimento. Uma palavra pode ter muitos significados. Tudo isso é o espírito de Ubuntu. Ubuntu não significa que as pessoas não devam cuidar de si próprias. A questão é: você vai fazer isso de maneira a desenvolver a sua comunidade, permitindo que ela melhore?”
Na tradição sul-africana, a reconciliação se exprime através do ubuntu ou humanismo, que inclui valores como a compaixão e a comunhão – valores que orientaram a Comissão Verdade e Reconciliação e serviram como base para a formulação dos objetivos nacionais de reconstrução e reconciliação.
Na África do Sul, a noção de Ubuntu ligou-se também à história da luta contra o Apartheid e inspirou Nelson Mandela na promoção de uma política de reconciliação nacional. Muitos anos antes, quando Mandela criou a liga da juventude da ANC, em 1944, a noção já estava presente no manifesto do movimento: “[…] O africano quer o universo como um todo orgânico que tende à harmonia e no qual as partes individuais existem somente como aspectos da unidade universal”
Segundo o Arcebispo Desmond Tutu, “uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível para as outras, apoia as outras, não se sente ameaçada quando outras pessoas são capazes e boas, com base em uma autoconfiança que vem do conhecimento de que ele ou ela pertence a algo maior que é diminuído quando outras pessoas são humilhadas ou diminuídas, quando são torturadas ou oprimidas.”
Portanto o conceito exprime a crença na comunhão que conecta toda a humanidade: “sou o que sou graças ao que somos todos nós”.
– De ubuntu, as pessoas devem saber que o mundo não é uma ilha: “Eu sou porque nós somos”. Eu sou humano, e a natureza humana implica compaixão, partilha, respeito, empatia – Dirk Louw, doutor em Filosofia Africana pela Universidade de Stellenbosch (África do Sul).